Pelo terceiro ano, os estudantes da Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (Asacad) do Município de Braço do Norte desenvolvem o projeto “Os Contadores de Histórias”. O programa visa incentivar o prazer pela leitura através de histórias narradas e interpretadas.
O projeto desenvolvido pela Asacad visa incentivar o prazer pela leitura, é realizado através das oficinas de Mediação de Leitura, e da utilização do Studio Voz e Encanto. A educadora Elaine Sufiatti, uma das responsáveis do projeto, lembra que a arte literária sempre esteve presente na vida das crianças e adolescentes da instituição, mas ganhou grande dimensão em 2015, quando a Asacad, popularmente conhecida como Casa Lar, elaborou o Projeto “Viajar na Leitura”, para disputar o Criança Esperança, da Unesco. O projeto foi contemplado e possibilitou a implantação de uma biblioteca com um vasto acervo literário, dando oportunidade para toda a comunidade institucional ter acesso ao espaço.

Em 2016, a instituição fomentou a leitura através de uma gincana literária intitulada “Ciranda da Leitura”, transcorrida ao longo de seis meses. O enfoque do trabalho pretendia desenvolver a imaginação criativa, nos mais variados tipos de obras. “A partir da leitura, foram desenvolvidas músicas, danças, poesias, paródias, poemas, teatros, desenhos e escritas, unindo o lúdico ao pedagógico, promovendo a aprendizagem e o prazer de ler, tornando, assim, a biblioteca um espaço atrativo e prazeroso onde todos possam expressar-se, por escrito e oralmente, por meio de uma visão crítica e artística da leitura”, comemora Elaine.
“A competição colocou à prova a criatividade e o conhecimento de todos os envolvidos”, recorda Thamires Prudencio, outra educadora, também encarregada do projeto. Percebendo o envolvimento das crianças e dos adolescentes no mundo artístico e cultural, Elaine e Thamires abraçaram um novo desafio, com enfoque na leitura e tendo em vista que o teatro é um contribuinte no que diz respeito ao compartilhamento do saber e das descobertas de ideias. Ao utilizar essa ferramenta, elas colocaram em prática a proposta. Relata Thamires que os participantes da oficina de teatro eram crianças e adolescentes com faixa etária de 6 a 16 anos. “O trabalho envolvia muita leitura, interpretação de texto, dramatização, bem como exercícios e jogos teatrais”, detalha Elaine. Tendo em vista o destaque de muitos talentos, pensaram em roteirizar uma peça de teatro para envolver o grande grupo. “Esse material deu início à criação do espetáculo “Um Sonho de Natal”, o qual envolveu 75 crianças e adolescentes da instituição. Para garantir o comprometimento e que teríamos o melhor dos estudantes, realizamos audições que definiram o elenco do espetáculo”, complementa Elaine.
Já Thamires chega a se emocionar ao lembrar a superação de um estudante que, mesmo com dislexia e dificuldades para aprender a ler, superou outros colegas nas audições e foi um dos artistas principais. “Ele ensaiou muito. Queria muito esse papel. Se dedicou e, por fim, comoveu a todos com seu desempenho”, recorda a educadora.
“Nós percebemos que poderíamos levar para além da instituição estes talentos lapidados com a leitura”. Acrescenta Elaine, contando que, para dinamizar ainda mais os trabalhos, elas propuseram à coordenação da instituição a aquisição de um estúdio de gravação. “Assim, as crianças e adolescentes poderiam realizar gravações de histórias, músicas, peças de teatro, entre outros trabalhos, incentivando de forma indireta a leitura”, revelam as educadoras o quão gratificante foi ao realizar o pedido, pois prontamente a coordenação viabilizou recursos para o mesmo. Receberam no ano de 2018, por doação do Rotary Club de Braço do Norte e da Casa da Amizade, um estúdio, que batizaram com o nome de “Studio Voz e Encanto”. Um DVD, com histórias infantis narradas pelos próprios estudantes de 6 a 9 anos foi produzido na instituição ainda em 2018.
Projeto tem apoio do FIA
Diante de todo este contexto, nasceu o Projeto Os Contadores de História. Para tirar a ideia do papel e levá-la para as escolas do município, o projeto foi aprovado pelo Conselho Municipal dos Diretos da Criança e do Adolescente (CMDCA), tendo apoio financeiro o Fundo da Infância e Adolescência (FIA).
O projeto, então, foi dividido em três etapas. A primeira é a teórica. “Os alunos são instados a perceberam a importância de origem das contações de histórias e como isso foi evoluindo com o passar dos anos. Já a segunda etapa envolve a preparação para as apresentações em grupos com cinco participantes, onde um é responsável pelo figurino, outro que edita e cuida das trilhas sonoras, criação do cenário e o contador de histórias. Todos se envolvem com a apresentação desde a escolha da obra a ser apresentada, até a apresentação. Todos têm sua função e são peças fundamentais para o espetáculo, não apenas quem se apresenta na frente ao público”, enaltece Thamires que procuram nesta divisão de tarefas enxergar a potencialidade de cada criança e adolescente. “Por fim, a terceira etapa, que é a apresentação nas escolas de Braço do Norte”, detalha.
Lembram que um dos principais objetivos do projeto é despertar no aluno o interesse em participar. “Ele quer estar lá. Não porque pedimos, mas porque sente que é importante”, enfatiza Thamires.
O trabalho desenvolvido pelas crianças e adolescentes repercutiu positivamente na primeira fase. Pontua Elaine a importância dos áudios livros produzidos pelas crianças, distribuídos após as contações de histórias, como forma de acessibilidade para as crianças e adultos cegos.

O projeto já contemplou mais de 840 estudantes, incluindo alunos da pré-escola da rede municipal de ensino. “O sucesso foi tanto, que se estendeu em 2020”. O que ninguém esperava é que a pandemia fosse interromper as apresentações em abril. “Para não parar e perder tudo que tínhamos conquistado, tivemos que passar para as apresentações on-line durante todo o ano passado”, explica Thamires. Acrescenta Elaine que “os trabalhos disponibilizados nas plataformas digitais tiveram grande dimensão, partindo do número de visualizações e comentários e curtidas” Este ano, novamente com o apoio do Conselho Municipal dos Diretos da Criança e do Adolescente, tendo como financiador o Fundo da Infância e Adolescência, iniciou-se neste mês de maio a terceira fase do projeto Os Contadores de Histórias.
A Asacad tem estrutura para atender praticamente 320 crianças com idade de 6 a 16 anos. “No momento em que estamos vivenciando, conforme o Plano de Contingência contra a covid-19, respeitando as regras de distanciamento e outras mais, estamos com a capacidade de atendimento de 140 crianças de 6 a 10 anos”, explica Rosiney Nazario, diretora da instituição.
Matéria Folha do Vale